Após um longo período de reflexões e, por que não dizer, de
ampla maturação da política brasileira, volto a escrever sob a luz dos últimos
acontecimentos. Foram dias de total turbulência, incertezas múltiplas e fracasso
vertiginoso de qualquer avaliação prognóstica que ousou arriscar o futuro do
país.
Em questão de dias, perdemos um presidenciável que respondia
por 8% das intenções de votos e vimos o país se converter em pena e
incredulidade. Historicamente, o brasileiro padece pelas perdas de seus líderes.
No próximo domingo, o suicídio de Vargas completa 60 anos; na próxima sexta,
após 38 anos, a morte de Juscelino ainda soa incrédula e mal explicada.
Agosto sempre reservou surpresas para a incipiente
república! A renúncia de Jânio Quadros, pode-se dizer, levou o país ao instável
governo de Jango, que culminaria mais tarde no Regime Ditatorial. De todos os
fatos, cuja característica predominante é a surpresa, nenhum ocorreu em meio a
tamanha reviravolta política como a morte de Campos. Um voo mortal ratificou
para a eternidade o nome do político pernambucano na história nacional. Sem
desmerecer o ilustre legado político da família Arrais, o que se ouve agora é a
falta que um político de vigorosos e modernos ideais fará a um país que sempre
acaba tendo que escolher entre duas vias.
Passado o abalo causado pela tragédia, é o momento de
analistas, políticos, curiosos e descrentes sentarem e darem vez ao
pragmatismo. A imprensa toma por certa a nomeação de Marina Silva pelo PSB,
como sucessora natural de Campos. A mesma Marina Silva, responsável por
abocanhar 20 milhões de votos (19,33% dos votos válidos) em 2010, e levar a
decisão presidencial para o 2º turno.
Dessa vez, seja por confluência dos astros ou por mera
cagada no jargão popular, ela volta ao jogo político muito mais forte do que
era como vice. A pesquisa Datafolha publicada hoje outorga a Marina 21% das
intenções de voto, contra estáveis 36% de Dilma e temerosos 20% de Aécio. Vale
lembrar que a pesquisa foi realizada imediatamente após a confirmação da morte
de Eduardo Campos.
O que o brasileiro precisa refletir agora é simples: quem é
Marina? O que ela tem de diferente da Marina de 2010? Vale lembrar que estamos
lidando com a candidata, cuja história pessoal mais se aproxima da do
ex-presidente Lula. Não parece nada, mas a gente sabe onde essa história de
superação pode dar!
Evangélica de criação e defensora de posições retrógradas em
relação ao aborto, por exemplo, a candidata emergiu como a personificação da
famigerada “terceira via”, como uma alternativa para o fim do dualismo PT-PSDB.
Sua história de luta se originou no combate aos vilões ambientais e, como
ministra do meio ambiente no período Lula, foi enfática ao afirmar que o modelo
de desenvolvimento praticado era não só incipiente mas também retrógrado e
perigoso para o futuro do país. Entrou para a estatística dos ministros
“caídos”. Agora trata-se de uma candidata com reais chances de ganhar a corrida
eleitoral! E pasmem: sem roubar votos de ninguém.
No comparativo das duas
últimas pesquisas do Datafolha, os candidatos Dilma e Aécio não possuem
variações consideráveis que expliquem a ascensão de Marina Silva. Parece que o
exército dos indecisos encontrou a terra prometida e viu em Marina a ilustração
da validade de um voto.
Pois é, caro leitor: em uma semana um presidenciável morre,
a política brasileira passa dias de limbo, transformam uma vice inexpressiva em
uma real candidata com reais chances de vitória num segundo turno, que é cada
vez mais certo, e nós, meros mortais ou meros observadores, embora tenhamos
faca e queijo nas mãos, também não podemos arriscar o que acontecerá até 5 de
outubro. E agora, quem dá as cartas?