segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Sucessão da Tragédia

Após um longo período de reflexões e, por que não dizer, de ampla maturação da política brasileira, volto a escrever sob a luz dos últimos acontecimentos. Foram dias de total turbulência, incertezas múltiplas e fracasso vertiginoso de qualquer avaliação prognóstica que ousou arriscar o futuro do país.

Em questão de dias, perdemos um presidenciável que respondia por 8% das intenções de votos e vimos o país se converter em pena e incredulidade. Historicamente, o brasileiro padece pelas perdas de seus líderes. No próximo domingo, o suicídio de Vargas completa 60 anos; na próxima sexta, após 38 anos, a morte de Juscelino ainda soa incrédula e mal explicada.
Agosto sempre reservou surpresas para a incipiente república! A renúncia de Jânio Quadros, pode-se dizer, levou o país ao instável governo de Jango, que culminaria mais tarde no Regime Ditatorial. De todos os fatos, cuja característica predominante é a surpresa, nenhum ocorreu em meio a tamanha reviravolta política como a morte de Campos. Um voo mortal ratificou para a eternidade o nome do político pernambucano na história nacional. Sem desmerecer o ilustre legado político da família Arrais, o que se ouve agora é a falta que um político de vigorosos e modernos ideais fará a um país que sempre acaba tendo que escolher entre duas vias.

Passado o abalo causado pela tragédia, é o momento de analistas, políticos, curiosos e descrentes sentarem e darem vez ao pragmatismo. A imprensa toma por certa a nomeação de Marina Silva pelo PSB, como sucessora natural de Campos. A mesma Marina Silva, responsável por abocanhar 20 milhões de votos (19,33% dos votos válidos) em 2010, e levar a decisão presidencial para o 2º turno.
Dessa vez, seja por confluência dos astros ou por mera cagada no jargão popular, ela volta ao jogo político muito mais forte do que era como vice. A pesquisa Datafolha publicada hoje outorga a Marina 21% das intenções de voto, contra estáveis 36% de Dilma e temerosos 20% de Aécio. Vale lembrar que a pesquisa foi realizada imediatamente após a confirmação da morte de Eduardo Campos.

O que o brasileiro precisa refletir agora é simples: quem é Marina? O que ela tem de diferente da Marina de 2010? Vale lembrar que estamos lidando com a candidata, cuja história pessoal mais se aproxima da do ex-presidente Lula. Não parece nada, mas a gente sabe onde essa história de superação pode dar!
Evangélica de criação e defensora de posições retrógradas em relação ao aborto, por exemplo, a candidata emergiu como a personificação da famigerada “terceira via”, como uma alternativa para o fim do dualismo PT-PSDB. Sua história de luta se originou no combate aos vilões ambientais e, como ministra do meio ambiente no período Lula, foi enfática ao afirmar que o modelo de desenvolvimento praticado era não só incipiente mas também retrógrado e perigoso para o futuro do país. Entrou para a estatística dos ministros “caídos”. Agora trata-se de uma candidata com reais chances de ganhar a corrida eleitoral! E pasmem: sem roubar votos de ninguém.

No comparativo das duas últimas pesquisas do Datafolha, os candidatos Dilma e Aécio não possuem variações consideráveis que expliquem a ascensão de Marina Silva. Parece que o exército dos indecisos encontrou a terra prometida e viu em Marina a ilustração da validade de um voto.

Pois é, caro leitor: em uma semana um presidenciável morre, a política brasileira passa dias de limbo, transformam uma vice inexpressiva em uma real candidata com reais chances de vitória num segundo turno, que é cada vez mais certo, e nós, meros mortais ou meros observadores, embora tenhamos faca e queijo nas mãos, também não podemos arriscar o que acontecerá até 5 de outubro. E agora, quem dá as cartas?