terça-feira, 2 de setembro de 2014

Onde está Lula?

Sem a menor dúvida, o país vive o momento mais intenso e perturbador de uma eleição, desde a redemocratização! As farpas foram substituídas por espadas que, por sua vez, são empunhadas com ferocidade vista somente em batalhas. E que batalha! A quase um mês do primeiro turno das eleições, paira uma estranha dúvida no ar: onde está Lula?
  Presente - direta ou indiretamente - nas eleições presidenciais desde a redemocratização, Lula se consagrou chefe do executivo em 2002 e, desde então, o cenário político nacional voltou sua face ao agrado do ex-presidente. Pragmático, bem relacionado nacional e internacionalmente, soube alinhar política externa brilhante com o atendimento aos anseios da população que, assim como ele na infância, não prosperou num país desigual e marcado pela hegemonia dos grandes blocos econômicos. Lula, impossibilitado pela constituição de concorrer a um terceiro mandato, vê-se obrigado a preparar um herdeiro político para 2011. Nasce Dilma Rousseff. Ministra Chefe da Casa Civil, menina dos olhos de Luiz Inácio. De um lado, a austeridade administrativa imputada pela ministra na pasta, de outro o barulho cada vez mais incômodo e audível no exterior de outra ministra. Marina Silva, assim como Dilma, se projetou mundo afora comandando a pasta do Meio Ambiente na Gestão Lula. Agressiva em suas posturas, a atual candidata demostrava certa intransigência quando o assunto era flexibilizar decisões ambientais em prol dos interesses madeireiros ou do agronegócio. Impensavelmente, Marina e Dilma têm personalidades que mais as igualam do que as diferem. Talvez o antagonismo envolto nesse duelo se resuma, unica e exclusivamente, à natureza do tema defendido.
  Marina se retirou do Governo Lula por não ser ouvida. Dilma se fortaleceu fazendo suas as palavras do presidente. Marina se tornou uma esquerda da esquerda, fazendo oposição a direita oficial e a centro-esquerda de Lula e Dilma. Dilma tentou, de maneira vã, equilibrar a defesa de grandes interesses corporativos com políticas sociais mais abrangentes e ambiciosas. Eis o atual cenário: a presidente se encontra numa situação econômica nada agradável e pouco disfarçável, e Marina se tornou "a terceira via do povo", com claras chances de destituir o Império PT. Claras e muito maiores, diga-se de passagem, comparadas às de Aécio Neves, que provavelmente também morreu naquele avião! Politicamente falando!
Mas é importante alertar que Marina Silva não é a mesma de 2010. Aquela não veria na herdeira do Itaú, o bode expiatório para seus sonhos mais escondidos. Aquela não aceitaria pitaco de um tal de Malafaia...
Já esta parece ceder às pressões da "velha política".
  Mas nosso foco não é este! O que está em questão é muito mais curioso que isto. Com Marina despontando nas pesquisas (alguns sugerem, inclusive, que Aécio Neves pode desistir da candidatura a fim de alavancar a vitória de Marina já no primeiro turno), Dilma parece estar entre a cruz e a espada. Atacar Marina seria audacioso e ingênuo, se partido de alguém com 79% de rejeição. Aplaudi-la seria um tiro no próprio pé. Diante disso tudo, surge a pergunta: onde está Lula? Onde está o pé de coelho oficial do PT? Que estratégia seria essa de aparente omissão frente a crescente onda de renovação da política nacional. Lula parece estar inerte assistindo aos capítulos finais de uma novela que não termina bem para seu partido. Seria um plano? Talvez a velha raposa já tenha jogado a toalha?
  Quer seja o desfecho dessa história, a pior aposta seria desconsiderar o poder e a habilidade do ex-presidente em contornar situações aparentemente perdidas. Vale lembrar a eleição de Haddad em SP.
Façam suas apostas: Setembro promete!