Passada a eleição, os ânimos continuam aflorados. A descrença opositora é indisfarçável e ameaça ser duradoura. Nada que seja alheio à uma democracia! O que fez e faz do Brasil ser o centro da atenção política em tempos eleitorais é a gritante perda de escrúpulos e a curiosidade. A primeira é fácil de entender, dada a repercussão de atos racistas, homofóbicos, étnicos e de toda a natureza sombria. Já a segunda é um misto de pessimismo dos derrotados com uma pitada de revanche, além do imediatismo voraz, exigido pelo mercado financeiro, que teme tudo que não pode prever.
Na quarta-feira (29) o Comitê de Política Monetária do Banco Central (COPOM - Sim, o Partido ao Meio te ajuda com as siglas!), responsável pela manutenção da taxa de juros, decidiu elevá-la em 0,25%, alcançando o patamar de 11,25%. A pergunta do leitor do blog talvez seja "e daí?"! Pois bem, é exatamente onde temos que chegar!
Na eleição o que mais se falou foi inflação, credibilidade da economia, manutenção dos empregos e salários... Errou grosseiramente quem acusou a atual gestão de não ter sabido lidar com a crise econômica mundial. O discurso, quase mantra, repetido inúmeras vezes pela então candidata Dilma Rousseff, frisava a importância de não se ter optado pelo arrocho salarial ou pelas demissões em massa - tal como ocorreu na Espanha, em Portugal, na Grécia - em prol de um modelo econômico autossustentável na medida do possível, e forte o suficiente para enfrentar tamanho problema sem repassar a responsabilidade, que é sabido, sempre caía no trabalhador! O ápice da crise passou, as eleições também! O cenário macroeconômico está se redesenhando a passos curtos, porém cautelosos. Ainda encontramos situações de dicotomia, inerentes às particularidades econômicas de cada país (como é o caso dos EUA que anuncia crescimento de 3,5% no terceiro trimestre, em contradição ao crescimento tímido de 1,2% para o ano, feito pela Alemanha), mas à grosso modo, o pior já passou! O que fez, então, o COPOM aumentar a taxa de juros, que tanto desagrada ao brasileiro? Por que fazer no pós-eleição? Seria uma tática eleitoral defender novos horizontes, mas agir com o velho conservadorismo?
Boa parte das questões apresentadas acima é resultante da enxurrada de interrogações precoces e de intenção duvidosa que nossa imprensa nos enfia, goela abaixo! Mudanças na política econômica já eram esperadas, inclusive encorajadas pela presidenta que anunciou em Setembro, em alto e bom som: "GOVERNO NOVO, EQUIPE NOVA!". Não que a equipe já tenha mudado (aliás essa é outra grande especulação política), mas é importante perceber que a maneira como se tem lidado com a crise está assumindo ares mais...responsáveis! A tentativa de conter a inflação a curto prazo encontrou na alta dos juros a maneira menos agressiva e irresponsável de atingir êxito. Ora, não precisa ser um grande especialista para entender que, aliada às medidas do COPOM, uma redução drástica nos gastos públicos seria o ideal. Mas isso envolve não só tolerância zero à corrupção e revisão de privilégios dos poderes, como também o custo de programa sociais que se mostraram extremamente válidos e benéficos às classes brasileiras historicamente menos abastadas.
Acerta quem aposta num novo mandato mais cauteloso e aberto ao diálogo. Acerta quem aposta num processo de tecnocracia da máquina pública. Infelizmente, a curto prazo é difícil imaginar resolvidos os problemas de aparelhamento de Estado, arraigados nos jardins do Alvorada muito antes da estrela vermelha brilhar no céu de Brasília. Mas a presidenta já acena e flerta com o empresariado brasileiro. Dona da fama de durona que a precede, Dilma pareceu entender melhor que seus adversários ( e isso quem confirma é o povo nas urnas) que a receita é voltar a crescer sim, mas sem abandonar tudo que se conquistou.
sexta-feira, 31 de outubro de 2014
quarta-feira, 8 de outubro de 2014
OS 460.000 VOTOS DE BOLSONARO
O Partido ao Meio abre espaço, ainda (e como nunca antes) em
clima eleitoral, para debater as surpresas e os retrocessos da votação do
último domingo. Brasileiros e brasileiras, com insaciável desejo de mudança,
foram às urnas como quem vai para uma batalha. O objetivo? Renovar! O
resultado? Volte duas casas e jogue o dado novamente!
Uma das grandes polêmicas eleitorais de 2014, sem dúvidas,
foi a expressiva votação recebida pelo candidato a deputado federal pelo Rio de
Janeiro, Jair Bolsonaro. Defendendo a manutenção do seu mandato no congresso
nacional, o deputado arrebatou nada mais nada menos que 460 mil votos no
estado. Número vultuoso que concedeu a esta figura controversa o posto de parlamentar
mais votado do Rio. Uma liderança da classe ultraconservadora (se é que existe
essa classe) que se tornou conhecido no país inteiro pela defesa intransigente
de ideais pouco populares e que causam revolta, principalmente na classe
liberal ligada à defesa de direitos homossexuais e humanos como um todo.
Dono de declarações polêmicas e combatente fervoroso dos que
criticam o regime militar, Bolsonaro é militar da reserva e passou por diversos
partidos políticos em sua vida pública, até se fixar no Partido Progressista,
antigo PPB. É importante ressaltar que, por mais contraditória que pareça esta
filiação, o deputado já foi peça integrante de partidos como o antigo PFL,
atual DEM, cuja sigla significava “partido da frente liberal”! Ora, o que
enxergar de liberal em Jair Bolsonaro? Católico fervoroso, é divorciado de sua
primeira mulher, ataca constantemente políticas raciais e de inclusão social.
Também se gaba de ser um ferrenho crítico ao atual governo e às políticas que
promovem investigação dos crimes cometidos durante a ditadura, como a criação
da Comissão Nacional da Verdade (CNV). Pai de três filhos que seguem como uma
receita de bolo seus passos, soube educar e guiar a sua maneira Flávio, Eduardo
e Carlos. O primeiro reeleito com mais de 160.000 votos pela câmara carioca. O
segundo, dono de 82.000 votos de paulistas que lhe concederam uma cadeira de
deputado federal, tal como o pai. Por último, Carlos, vereador quando ainda
tinha 17 anos. Todos compartilham as ideologias do pai. Claro, não podia ser
diferente!
A grande questão que o Partido ao Meio coloca em debate é a
motivação de cada eleitor que, desgostoso com os rumos do país e sedento por
renovação e progresso, vota em caricaturas como Bolsonaro! E bate no peito!
Temos mais ultraconservadores nos cercando do que supõe nossa vã filosofia? O
brasileiro, então, quer varrer do mapa gays, negros, ateus, agnósticos e, acima
de tudo, progressistas que defendam o real significado da palavra?
Não podemos confundir os reais anseios da população com a
alteração de ânimos provocada por uma ausência cada vez mais gritante do
Estado. Isso quer dizer que o eleitor de tipos como o de Jair Bolsonaro não é
tão conservador, em sua maioria! O que ocorre é que a população, cansada de
tanto descaso por parte do poder público, começa a achar natural a defesa de
ideias extremas que tragam uma aparente e instantânea resolução para problemas
seculares. “Se as cadeias estão lotadas e as condições de vida de cada preso
cada vez mais desumanas, nada mais justo que a punição máxima com quem atentou
contra a sociedade”
Casos como este – e somam-se a ele Celso Russomanno, Marco
Feliciano e tantos outros – escancaram uma sociedade cada vez mais perdida,
desacreditada, com perigosa tendência à práticas nocivas ao estado democrático
de direito e que, acima de tudo, reivindica por reivindicar! Se nossas falhas
não forem corrigidas, se nossos antagonismos e diferenças sociais históricas
não forem combatidos, de que adianta sair às ruas e protestar? Embora tardio e
limitado à esfera do poder executivo, o segundo turno cai como uma luva para os
que cogitam estudar melhor suas escolhas. Brasileiros de todos os cantos, eis a
segunda chance!
sexta-feira, 3 de outubro de 2014
O DEBATE DOS ABSURDOS
Dezenove pontos no ibope foi a marca atingida pelo debate
presidencial ontem, transmitido pela Globo. Uma marca boa para a faixa de
horário. Um verdadeiro show, digno de uma campanha do Criança Esperança ou do
Show da Virada. Valeu a pena ficar acordado e assistir talvez o único programa
de utilidade pública do horário nobre!
Não que o
brasileiro estivesse esperando o debate para definir seu voto - pelo menos
espero que não, pois se aquele debate definiu algum voto, este se chama nulo! –
mas foi, sem dúvidas, mais uma oportunidade de encarar candidato por candidato
e entender o que se passa na cabeça deles, qual o tamanho da pretensão que cada
um tem ou de dizer que o país está ótimo ou que está péssimo e se tem a fórmula
mágica para o sucesso.
De um lado,
o semi projeto da direita brasileira chamado PSDB que, desde a ascensão e
consolidação do PT, vive dias de confusão mental e crise de identidade. Não
sabe o que é, a quê veio, para onde vai... Atrás dos tucanos, os candidatos “mijoritários”
que, sem medo de parecer leviano, acredito piamente que o único propósito de
estarem ali é minar o partido da situação. Ahhh, o partido da situação! O PT,
de todos estes, talvez foi o que mais sofreu com a gênese da existência
política. Aliás, peço desculpas ao conceito de “gênese”! Chamar de evolução o
que acontece por aqui não parece ser o mais adequado! Historicamente criado com
o intuito de representar o trabalhador na política, foi alvo de subtrações de
valor, e de valores($$). Um partido de ideais, cuja reputação ilibada agora
beira ao ufanismo. Não destaco o PSDB com a mesma ênfase, pois ninguém se
transforma numa coisa que sempre foi!
Mas vamos
nos ater ao debate! Entre aplausos infundados
à gestão FHC e troca de farpas que mais pareciam pedaços de madeira inteiros,
eis que num momento tenso Eduardo Jorge usa de seu direito de fala para incitar
Levy Fidélix a se desculpar com a população pela fala preconceituosa no debate
da Record, no último domingo. Fez o barulho que queria, mas se a intenção era
ouvir a desculpa, foi muito inocente!
Daí vem o
Aécio, movido a agressividade característica de um tucano que não sabe bem se
caiu no ostracismo ou se ainda tem chances de sobreviver, e levanta um vigoroso
dedo contra a candidata do PSOL, Luciana Genro. Esta, por sua vez, rapidamente
o repreende e a situação se controla. No mais, era Dilma que se defendia e
criticava o Aécio (sim, o Aécio! Das duas uma: ou o PT leu “O Segredo” e de
tanto acreditar que é mais fácil enfrentar Neves no segundo turno do que
Marina, já toma a possibilidade como real, ou sei lá...uma vontade de se
divertir), era Aécio que dominava a arte de rir nos momentos mais impróprios,
era Fidélix que interpelava Genro com uma autoridade patriarcal, vulgo esporro!
Aconteceu de
tudo um pouco neste debate. Mas a única coisa pra qual ele não serviu foi
esclarecer! Mente quem afirma que decidiu seu voto ontem (repito: a não ser que
a decisão tenha sido pelo Macaco Tião). Domingo é dia! É evento pra reunir a
família em torno do sofá e gritar gol, da janela, pra cada percentual
alcançado.
Vote no domingo,
faça o possível! Se é mudança que você quer, experimente focar no legislativo.
Presidente não muda nada, só dá a direção! Quando dá! O brasileiro pode provar
que é inteligente. Não votado no Aécio pra acabar com a Dilma, e vice-versa.
Mas pra entender que mais vale uma Dilma governando do que um Tiririca “palhaçando”.
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