“O país está chocado, está atônito.” Não, o dia de hoje é “mais
um dia normal” na recente história política brasileira. Não estou me dirigindo
a eleitores. Dirijo-me à massa que não se permite entrar na discussão acéfala
de “quem é o responsável”.
O episódio de hoje pode sim entrar para a história. Não é
brincadeira um ex-presidente entrar para o hall dos ministros de um governo que
ele mesmo se empenhou em eleger. De um governo que ele fez de tudo para eleger!
Lula na Casa Civil, ou em qualquer cargo do atual governo é
um erro. Fomenta fanáticos e acirra o mata-mata que se tornou nossa política.
Não é o fundo do poço porque, como o Brasil não é para iniciantes, sempre
podemos nos surpreender. Mas, curiosamente, há uma explicação (que nada me
agrada) para a jogada: não podemos esperar reações políticas equilibradas de
ações jurídicas desequilibradas.
Quando a Presidenta Dilma fala que foi o seu governo que mais
lutou contra a corrupção no país, ela não está errada. Qualquer ânimo exaltado
pularia da cadeira com esta afirmação, mas analiticamente falando,
legislativamente falando, nunca houve um combate intrínseco à corrupção como o
dela. Medidas de coerção, PEC’s que neutralizariam parte da banda criminosa,
redução de salários... Pode-se questionar a demora do processo, mas o processo
em si, não.
Quanto a Lula, trata-se de um líder (embora o coro dos
insanos não queira admitir, ainda é um) que, sentindo-se ameaçado, lança mão de
todos os dispositivos legais à disposição para permanecer no posto de líder. Digo
legais, visto que pode não ser imoral assumir tal cargo nesta altura do
campeonato. Mas há uma cartilha pouco conhecida, por muitos esquecida, chamada
Constituição Federal que assegura a Dilma o direito de montar o ministério que
lhe convir. Comigo, com Lula, com Aécio, com você...
Lula não está assumindo qualquer tipo de culpa tomando esta
decisão precipitada. É, apenas, uma resposta conturbada a um processo jurídico
esquizofrênico que o torna réu da opinião pública. É sempre importante lembrar
que ACHAR que alguém é culpado não torna esta pessoa culpada. É, até o momento,
inclusive uma informação confirmada pela juíza de SP lotada de julgar o pedido
de prisão preventiva, apenas uma suspeita! Não há provas.
Poderíamos estar discutindo até onde o insano Eduardo Cunha
vai chegar, ou quanto tempo irá demorar para que Aécio, penta campeão em citações
nas delações premiadas , pode seguir sem nenhum processo. Mas não: a discussão
mais importante é como acabar com um governo que mal se mantém em pé por conta
própria.
Não me convencem as bandeiras manifestantes que dizem “meu
partido é o Brasil”, ou então “não importa qual o partido do corrupto, quero
todos na cadeia.” Até porque, ironicamente, só se ouvem essas vozes quando a
manifestação é claramente da direita.
Perdeu-se a sensibilidade para o simbólico, e o brasileiro
só está focado no prático. O simbólico, neste caso, é estar numa manifestação
anacrônica, onde uns pedem monarquia, outros ditadura, deposição, renúncia...
Qualquer manifestação política séria prima pela unidade de raciocínio. E esta
não está cumprindo a premissa.
Sinto que nada mais falta aos tímidos apoiadores da direita
ou aos aguerridos, senão reconhecer que os heróis de outrora (Japonês da Federal,
Eduardo Cunha exaltado na mesma manifestação num passado pouco distante, Aécio
Neves) estão a léguas de vantagem do Lula na corrida para a forca. O problema
da esquerda é, talvez, um fanatismo que a cega. O da direita é apontar o dedo
para este mesmo fanatismo como se não estivesse fadada ao mesmo fracasso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário