quarta-feira, 16 de março de 2016

Lula e o cerco

“O país está chocado, está atônito.” Não, o dia de hoje é “mais um dia normal” na recente história política brasileira. Não estou me dirigindo a eleitores. Dirijo-me à massa que não se permite entrar na discussão acéfala de “quem é o responsável”.

O episódio de hoje pode sim entrar para a história. Não é brincadeira um ex-presidente entrar para o hall dos ministros de um governo que ele mesmo se empenhou em eleger. De um governo que ele fez de tudo para eleger!
Lula na Casa Civil, ou em qualquer cargo do atual governo é um erro. Fomenta fanáticos e acirra o mata-mata que se tornou nossa política. Não é o fundo do poço porque, como o Brasil não é para iniciantes, sempre podemos nos surpreender. Mas, curiosamente, há uma explicação (que nada me agrada) para a jogada: não podemos esperar reações políticas equilibradas de ações jurídicas desequilibradas.

Quando a Presidenta Dilma fala que foi o seu governo que mais lutou contra a corrupção no país, ela não está errada. Qualquer ânimo exaltado pularia da cadeira com esta afirmação, mas analiticamente falando, legislativamente falando, nunca houve um combate intrínseco à corrupção como o dela. Medidas de coerção, PEC’s que neutralizariam parte da banda criminosa, redução de salários... Pode-se questionar a demora do processo, mas o processo em si, não.
Quanto a Lula, trata-se de um líder (embora o coro dos insanos não queira admitir, ainda é um) que, sentindo-se ameaçado, lança mão de todos os dispositivos legais à disposição para permanecer no posto de líder. Digo legais, visto que pode não ser imoral assumir tal cargo nesta altura do campeonato. Mas há uma cartilha pouco conhecida, por muitos esquecida, chamada Constituição Federal que assegura a Dilma o direito de montar o ministério que lhe convir. Comigo, com Lula, com Aécio, com você...

Lula não está assumindo qualquer tipo de culpa tomando esta decisão precipitada. É, apenas, uma resposta conturbada a um processo jurídico esquizofrênico que o torna réu da opinião pública. É sempre importante lembrar que ACHAR que alguém é culpado não torna esta pessoa culpada. É, até o momento, inclusive uma informação confirmada pela juíza de SP lotada de julgar o pedido de prisão preventiva, apenas uma suspeita! Não há provas.
Poderíamos estar discutindo até onde o insano Eduardo Cunha vai chegar, ou quanto tempo irá demorar para que Aécio, penta campeão em citações nas delações premiadas , pode seguir sem nenhum processo. Mas não: a discussão mais importante é como acabar com um governo que mal se mantém em pé por conta própria.

Não me convencem as bandeiras manifestantes que dizem “meu partido é o Brasil”, ou então “não importa qual o partido do corrupto, quero todos na cadeia.” Até porque, ironicamente, só se ouvem essas vozes quando a manifestação é claramente da direita.
Perdeu-se a sensibilidade para o simbólico, e o brasileiro só está focado no prático. O simbólico, neste caso, é estar numa manifestação anacrônica, onde uns pedem monarquia, outros ditadura, deposição, renúncia... Qualquer manifestação política séria prima pela unidade de raciocínio. E esta não está cumprindo a premissa.


Sinto que nada mais falta aos tímidos apoiadores da direita ou aos aguerridos, senão reconhecer que os heróis de outrora (Japonês da Federal, Eduardo Cunha exaltado na mesma manifestação num passado pouco distante, Aécio Neves) estão a léguas de vantagem do Lula na corrida para a forca. O problema da esquerda é, talvez, um fanatismo que a cega. O da direita é apontar o dedo para este mesmo fanatismo como se não estivesse fadada ao mesmo fracasso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário