sexta-feira, 1 de abril de 2016

O GOLPE DENTRO DO GOLPE

Parece repetitivo escrever sempre e, sobretudo, agora a respeito do assunto. Mais de uma vez, já foi dito aqui neste blog que a história política brasileira é cíclica. Os fatos recentes só comprovam a afirmação. O maior partido político da república sai do governo, pela primeira vez em quase 30 anos de redemocratização. E essa saída, embora nova, diz muito a respeito do passado.

Seria espantoso se não fosse explicável. O PMDB sempre contou com o oportunismo de suas bases e de seus caciques. A tática de maleabilidade que a sigla adotou para se perpetuar como coadjuvante no poder parece se esvair, agora. Mas só parece! Nenhum movimento do partido é abrupto ou impensado.

O que acontece de inédito neste momento é que, agora, há um racha considerável e visível que ameaça destruir a lógica adotada por seus integrantes ao longo do tempo. Nomes de peso como o da Ministra da Agricultura, Kátia Abreu, e o do senador Roberto Requião (PR) - que foi bastante contundente ao criticar a jogada do partido e sugerir um golpe aplicado pelo Vice Presidente, Michel Temer - podem indicar uma crise interna.

Além de deliberar a entrega de, aproximadamente, dois mil cargos comissionados e os postos ocupados no segundo escalão do Governo Dilma, Temer e Eduardo Cunha fizeram valer a tática maquiavélica de abandonar o barco para pegar carona em outro. Usando um interlocutor conhecido pelo governo, a bancada decidiu engrossar os quadros da oposição federal por aclamação. Romero Jucá (RR) liderou as vozes dissonantes – porém, não consensuais – que debandaram da administração. Este, que já foi líder dos governos Lula e Dilma, agora adota de bom grado a estratégia traçada por Temer para enfraquecer Dilma e possibilitar a já dada como certa “administração Temer”.

Enquanto isso, se desenrola em rapidez inversamente proporcional ao processo de impeachment, o processo de cassação de Eduardo Cunha (RJ), atual e - pasmem - ainda Presidente da Câmara. Como se não fosse susto suficiente, terceiro na linha sucessória da presidência da república.

No Poder Judiciário, parece que a voz do juiz Sérgio Moro foi calada. Pelo menos, momentaneamente. Com indicação do procurador Janot, os ministros do STF decidiram ordenar que a “investigação” contra Lula seja tocada pela suprema corte, e não mais por Curitiba. Isso abre espaço para a possível aceitação da nomeação de Lula para a Casa Civil. Na interpretação de Teori Zavaski, o Supremo não pode interferir nas decisões - amparadas por lei – do Poder Executivo.

De resto, nos é imposto ir às ruas e lutar para que a democracia não seja perdida ou subtraída. Interesses escusos movem o processo de impeachment e arrastam grandes nomes da direita brasileira para um abismo de ódio e indignação seletiva que surpreendem os mais céticos.


O jeito seria esperar e apostar, se espera e aposta não fossem tão perigosas neste momento. É tempo de luta!

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