sexta-feira, 31 de outubro de 2014

O INÍCIO DO DIÁLOGO ANUNCIADO

Passada a eleição, os ânimos continuam aflorados. A descrença opositora é indisfarçável e ameaça ser duradoura. Nada que seja alheio à uma democracia! O que fez e faz do Brasil ser o centro da atenção política em tempos eleitorais é a gritante perda de escrúpulos e a curiosidade. A primeira é fácil de entender, dada a repercussão de atos racistas, homofóbicos, étnicos e de toda a natureza sombria. Já a segunda é um misto de pessimismo dos derrotados com uma pitada de revanche, além do imediatismo voraz, exigido pelo mercado financeiro, que teme tudo que não pode prever.

Na quarta-feira (29) o Comitê de Política Monetária do Banco Central (COPOM - Sim, o Partido ao Meio te ajuda com as siglas!), responsável pela manutenção da taxa de juros, decidiu elevá-la em 0,25%, alcançando o patamar de 11,25%. A pergunta do leitor do blog talvez seja "e daí?"! Pois bem, é exatamente onde temos que chegar!
Na eleição o que mais se falou foi inflação, credibilidade da economia, manutenção dos empregos e salários... Errou grosseiramente quem acusou a atual gestão de não ter sabido lidar com a crise econômica mundial. O discurso, quase mantra, repetido inúmeras vezes pela então candidata Dilma Rousseff, frisava a importância de não se ter optado pelo arrocho salarial ou pelas demissões em massa - tal como ocorreu na Espanha, em Portugal, na Grécia - em prol de um modelo econômico autossustentável na medida do possível, e forte o suficiente para enfrentar tamanho problema sem repassar a responsabilidade, que é sabido, sempre caía no trabalhador! O ápice da crise passou, as eleições também! O cenário macroeconômico está se redesenhando a passos curtos, porém cautelosos. Ainda encontramos situações de dicotomia, inerentes às particularidades econômicas de cada país (como é o caso dos EUA que anuncia crescimento de 3,5% no terceiro trimestre, em contradição ao crescimento tímido de 1,2% para o ano, feito pela Alemanha), mas à grosso modo, o pior já passou! O que fez, então, o COPOM aumentar a taxa de juros, que tanto desagrada ao brasileiro? Por que fazer no pós-eleição? Seria uma tática eleitoral defender novos horizontes, mas agir com o velho conservadorismo?

Boa parte das questões apresentadas acima é resultante da enxurrada de interrogações precoces e de intenção duvidosa que nossa imprensa nos enfia, goela abaixo! Mudanças na política econômica já eram esperadas, inclusive encorajadas pela presidenta que anunciou em Setembro, em alto e bom som: "GOVERNO NOVO, EQUIPE NOVA!". Não que a equipe já tenha mudado (aliás essa é outra grande especulação política), mas é importante perceber que a maneira como se tem lidado com a crise está assumindo ares mais...responsáveis! A tentativa de conter a inflação a curto prazo encontrou na alta dos juros a maneira menos agressiva e irresponsável de atingir êxito. Ora, não precisa ser um grande especialista para entender que, aliada às medidas do COPOM, uma redução drástica nos gastos públicos seria o ideal. Mas isso envolve não só tolerância zero à corrupção e revisão de privilégios dos poderes, como também o custo de programa sociais que se mostraram extremamente válidos e benéficos às classes brasileiras historicamente menos abastadas.

Acerta quem aposta num novo mandato mais cauteloso e aberto ao diálogo. Acerta quem aposta num processo de tecnocracia da máquina pública. Infelizmente, a curto prazo é difícil imaginar resolvidos os problemas de aparelhamento de Estado, arraigados nos jardins do Alvorada muito antes da estrela vermelha brilhar no céu de Brasília. Mas a presidenta já acena e flerta com o empresariado brasileiro. Dona da fama de durona que a precede, Dilma pareceu entender melhor que seus adversários ( e isso quem confirma é o povo nas urnas) que a receita é voltar a crescer sim, mas sem abandonar tudo que se conquistou.    

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