segunda-feira, 9 de setembro de 2013

A sobra e o resto

Pare por um momento e olhe para as ruas. Há poucos meses, o primeiro sentimento que surgia ao observá-las era o orgulho! Orgulho pela sensação de pertencimento que os protestos conferiram a cada brasileiro. "Sou brasileiro, também estou insatisfeito e percebi que pra mudar depende de mim!". A revolta era em prol de um país mais "limpo", em todos os sentidos da palavra: não jogar lixo na rua nem tampouco jogar no Congresso! Bom tempos aqueles...de 3 meses atrás!

O último 7 de Setembro foi, talvez, o mais inexpressivo ato a favor da independência que este país já viu. O que se via eram pessoas que saíram pelas grandes avenidas do país receosas pelos conflitos constantes entre policiais e BADERNEIROS. Víamos também estes baderneiros, motivados sabe Deus por quem, em constante ato de depredação e vandalismo. Não digo do patrimônio público, pelo menos não do tangível! Falo do patrimônio público como característica marcante de cada brasileiro. "Sou brasileiro e, por natureza, tento mudar o que me incomoda. De fato, adormeci por um bom tempo, mas quero acordar!" Não se via mais isso nas ruas, no sábado! Que me desculpe Caetano Veloso - com sua retórica afiada e sua imagem amplamente difundida de um quase líder de apoio aos Black Blocks - mas não é assim que se faz protesto. Não é assim que se fez na sua época, não entendo o motivo de tal liderança. Nas redes sociais já ouvi dizer que "aqueles eram outros tempos"! De fato, eram outros tempos. Tempos onde a repressão não só prendia, matava; não só batia, queimava, cegava, torturava; não só não ouvia, mas também calava! A vida, ironicamente, parece mais difícil agora! Espero estar errado, mas meu sentimento é de um cidadão enclausurado dentro da minha própria casa, sem a menor vontade cívica de dar apoio aos manifestantes. E o pior de tudo: isso é positivo! Primeiro, por não serem mais M-A-N-I-F-E-S-T-A-N-T-E-S. Segundo por não lutarem por causas que eu acredito.

A cada dia, não faço ideia do número de crianças mortas no Nordeste ou em qualquer outra região do país, por inanição. Na minha casa, as vezes falta água e não conseguimos imaginar um futuro de 2 dias adiante com essa situação. Me esforço para entender como essas pessoas vivem, sem acesso básico a esse insumo tão importante. Vou além: quantas pessoas são maltratadas, têm seus direitos jogados no lixo, não são atendidas nos hospitais(primeiro por não haver hospital suficiente, segundo por não haver infraestrutura suficiente). Repreendo todo e qualquer ato contra os personagens do programa Mais Médicos! Se você tem problema com o programa, desconte no governo que você ajudou a instaurar com seu voto! Rechaçar essas pessoas é o mesmo que bater em quem lhe oferece comida!

Você, leitor, deve estar se perguntando qual o motivo da minha indignação fora de foco acima. Explico: me causa extrema indignação perceber duas coisas no país. A primeira é a falta de preparo de quem deveria nos guiar, os políticos! Santo Deus! Baseados em uma procura pela solução mais rápida às manifestações, eles respondem de forma atabalhoada, disforme, sem de fato atender ou ao menos ouvir ao que se pede! A segunda, é pelo quê se luta no país! Já protagonizei embates calorosos com amigos a respeito desta minha posição, mas não abro mão dela - e peço desculpas a quem pensa diferente. O Brasil é um país em expansão, de terceiro mundo, com problemas de terceiro mundo, e discussões de primeiro! É mesmo necessário que eu saia às ruas em prol da união homoafetiva, enquanto minha avó gasta toda a sua aposentadoria num plano de saúde? Faz sentido bater no peito e gritar cada vez mais alto pela legalização da maconha, enquanto vejo alguém da minha idade na rua vendendo bala enquanto eu estou indo pra faculdade? É realmente necessário que a gente priorize a discussão espiritual e religiosa que envolve o aborto, se o meu filho pode nascer num país sem escola, sem hospital e pior, sem ninguém pra ensiná-lo a pensar, a votar? Perceba, leitor: a frustração não é com os temas protestados. creio que sejam extremamente relevantes, mas não agora! Minha frustração é com aquele cidadão que faz um pacto comigo de construir uma casa e, enquanto eu estou preparando a fundação, ele quer colocar o telhado! Não dá!

Por fim, pincelando a respeito da Síria, ouvi uma frase sensacional esses dias, que poderia ser interpretada pelo Obama, mas é fictícia(em termos): "Estão matando cidadãos Sírios, por isso iremos invadir a Síria para que matar cidadãos Sírios impedindo-os de matar cidadãos Sírios". Haha, por hoje é só!

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