sexta-feira, 14 de junho de 2013

Feche seus olhos. Por um segundo imagine estar no centro de São Paulo, há mais ou menos 25, 30 anos! Ouça os tiros, a cavalaria serpenteando a multidão e vindo enfurecida ao seu encontro. Ouça os gritos, gente de bem tratada como gente de mal por quem se julga acima do bem e do mal. Sinta o vento. A bandeira tremula tímida do alto de um prédio qualquer personificando a tristeza. Tristeza de brasileiros que lutam contra brasileiros, povo contra povo. De um lado a população atônita reivindicando representação política, se apegando à mais destemida esperança de mudar o que quer que seja. De outro, a polícia que, em respeito a hierarquia militar, defende com afinco a manutenção de um estado sólido. Estado de merda! Abra seus olhos. Não se assuste, o cenário é o mesmo e não estamos na década de 80. A ditadura acabou - ou nos enganou - e, ao ligar a TV, a cavalaria ainda estará lá. Os gritos estarão ecoando cada vez mais alto. Mais destemidos e revoltados. Hoje, o tom é sério! A tristeza com os que morrem ou se ferem é sentida, com a mesma intensidade pelo Partido ao Meio, do orgulho por esses gigantes que, ao contrário do que se ensina, não estão tão adormecidos assim. São Paulo está vivendo, nos últimos dias, num cenário de guerra e caos urbano provocados pelo reajuste das passagens no transporte coletivo urbano. Diferente do que o poder público imaginara, a população foi às ruas protestar. Não é preciso conhecer São Paulo, suas mazelas e injustiças, para perceber o porquê da revolta. A realidade é a mesma experimentada em toda grande capital brasileira: qualidade do serviço público baixíssima ou quase nula. Há muito tempo não se via uma indignação popular sendo levada ao seu ápice, ou seja, o povo saindo ás ruas na esperança de ser ouvido, de fazer sua opinião ser levada em conta. O resultado disso é sempre negativo, do ponto de vista humano. Centenas de feridos, depredação do patrimônio público, dedicação total do efetivo policial para conter a revolta, fazendo com que alguém, em algum lugar, saia perdendo. O papel do Partido ao Meio vai além da mera informação. Isso é papel da imprensa que, diga-se de passagem, faz "à moda boi"! Também não queremos influenciar mais revoltas, fazer com que as pessoas se juntem aos revoltosos e briguem de maneira mais violenta nas ruas. O nosso papel é mostrar o que está por trás disso tudo. Entendo que você, filho único, dificilmente me entenderá agora! Mas você, que tem aquela penca de irmãos, ou até mesmo você filho único que tem uma penca de primos que fazem da sua casa ponto fixo de descanso eterno, prestem atenção: é sabido por todos nós que quebrar a vidraça do vizinho jogando bola ou roubar goiaba do terreno no fim da rua, não dá em nada! Exceto para quem faz sozinho! Em bando, a culpa se dilui. O popular "esporro" quando não se direciona a um indivíduo apenas, torna-se vago, quase meio sem sentido. Do mesmo modo que sair às ruas em protesto contra o que quer que seja não é válido se for solitário. Você não será ouvido e certamente o "esporro" vai se grande. Agora, pense em todos os seus irmãos e primos unidos em torno de um objetivo, guiados por uma só vontade! Vão longe! Com o passar dos anos, parece que o espírito coletivo que nos acompanhou por toda a infância, nos abandona e deixa em seu lugar um gigante adormecido, ou só um cara meio medroso que acha que não consegue mudar o mundo, daí beber uma cerveja é mais fácil mesmo! Parece que ainda não descobrimos, como Frejat supôs, que "rir é bom, mas que rir de tudo é desespero"! Seja lendo este blog, seja em solidariedade por outros ou seja por força de vontade, mas por favor, é hora de sair da cadeira e se juntar às vozes que gritam lá fora. No fim das contas, quando já for tarde, iremos perceber que ficar em casa não nos torna mais ou menos culpados, nem nos deixa mais ou menos alheios. A frase é forte, mas lembre-se: “Os lugares mais sombrios do Inferno são reservados àqueles que se mantiveram neutros em tempos de crise moral.”

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