Domingo. 17 de Abril do ano de 2016. Qualquer brasileiro que ligasse a TV a partir das 14h estava apto a assistir qualquer coisa, menos política! O que tomou conta do país ontem foi um processo que não fez vitoriosos. Mas serviu para afundar ainda mais suas vítimas: aqueles mesmos brasileiros que ligaram a TV.
O circo armado na Câmara Federal e, posteriormente, a apresentação das atrações principais deste circo corroeram a esperança do país em dias melhores. Claro que é público e notório o erro ao tentar resolver a atual situação brasileira com um processo de impeachment. Mas ontem foi diferente. Ontem a democracia assumiu estritamente o papel de dar voz a todos. E deu! Deu voz, inclusive, a quem não tinha nada de bom a falar. Deu voz a quem sabia o que falar e não falou. Deu voz a quem era melhor não ter falado. Deu voz a torturador, a fascista, a ladrão, a palhaço...
De todas as representações que usaram da palavra ontem, na Câmara, poucas me chamaram tanta atenção quanto a das mulheres favoráveis ao processo de cassação da Presidenta. Mulheres - algumas negras, outras brancas - que falaram em prol do machismo melhor do que qualquer homem o faria na ocasião. Mulheres que ignoraram (ou na melhor das hipóteses e na mais ingênua, esqueceram) o que é ser mulher ao redor do mundo e, principalmente, no Brasil. Foram ao microfone corroborar com a ínfima participação feminina na política. Mulher que enalteceu o marido preso horas depois. Mulher que enalteceu o presidente da casa, que é contrário a ela.
Mas, verdade seja dita, tivemos as Jandiras, as Erundinas, as Marias...
Destaco aqui meu respeito pela Deputada Federal Margaria Salomão que fez e faz discursos brilhantes orgulhando homens e mulheres que, independente da ideologia apropriada por cada um, se identificam na convicção republicana da congressista.
Tivemos os Ivans, os Chicos, os Jeans que demonstraram a sensibilidade que o brasileiro consciente teria, naquele momento. Vimos horrores proferidos pelos abutres de sempre. Vimos Bolsonaro glorificando Ustra, o torturador. Vimos Deus votando. Nossa, como deus votou! Sinceramente, a pessoa que vos escreve não esperava isso de Deus. A família, a grande família brasileira se fez presente, reacionária como nunca. Infelizmente, alguns deputados ontem deixaram claro que não serão mais permitidas trocas de sexo de crianças, e isso é muito triste.
O processo beira à piada, mas é escárnio dos mais graves.
E a segunda-feira amanheceu áspera, até meio apagada. O desagrado dos derrotados impera nos vagões do metrô, nos pontos de ônibus, nas ruas em geral. Refiro-me aos 200 milhões de derrotados. Aos que nem sabem ainda que o são. Aos que vivem o (nem tanto) inocente vislumbre da ilusão. Brasília, ontem, pareceu uma metralhadora descontrolada, com poder de fogo suficiente para atingir todo o país. Cumpriu seu papel e se manteve de pé. A arquitetura de Brasília foi pensada no sentido de conferir a segurança dos congressistas, com seus gabinetes subterrâneos. Ontem, a história provou que até a arquitetura estava errada. Mais seguro seria submergir o resto do Brasil!
Que o episódio de ontem não levante nenhum brasileiro a lutar contra seu próprio povo. Por mais que a viabilidade do discurso "mas lá é a representação do povo que temos" seja verdadeira, vale a pena lembrar a informação veiculada pela Mídia Ninja: Só 36 daqueles deputados foram eleitos por seus próprios votos. Os outros 477 lá estão pelo sistema que soma votos de legendas e coligações.
Que não nos levantemos contra o povo, mas sim contra o sistema falido, que já não representa mais nada a não ser a vontade escusa de congressistas abutres.
A melancolia da derrota está presente sim. O sumido Aécio Neves, em seu discurso de derrota nas eleições de 2014, disse: "a Presidente Dilma ganhou perdendo e nós perdemos ganhando". Era a primeira porta a ser aberta ao golpe. Mas, no dia de hoje, a frase faz sentido se considerarmos que qualquer um que se sentiu vitorioso, na noite de ontem, GANHOU PERDENDO.
segunda-feira, 18 de abril de 2016
sexta-feira, 1 de abril de 2016
O GOLPE DENTRO DO GOLPE
Parece repetitivo escrever sempre e, sobretudo, agora a
respeito do assunto. Mais de uma vez, já foi dito aqui neste blog que a história
política brasileira é cíclica. Os fatos recentes só comprovam a afirmação. O
maior partido político da república sai do governo, pela primeira vez em quase
30 anos de redemocratização. E essa saída, embora nova, diz muito a respeito do passado.
Seria espantoso se não fosse explicável. O PMDB sempre
contou com o oportunismo de suas bases e de seus caciques. A tática de maleabilidade
que a sigla adotou para se perpetuar como coadjuvante no poder parece se
esvair, agora. Mas só parece! Nenhum movimento do partido é abrupto ou
impensado.
O que acontece de inédito neste momento é que, agora, há um
racha considerável e visível que ameaça destruir a lógica adotada por seus
integrantes ao longo do tempo. Nomes de peso como o da Ministra da Agricultura,
Kátia Abreu, e o do senador Roberto Requião (PR) - que foi bastante contundente
ao criticar a jogada do partido e sugerir um golpe aplicado pelo Vice Presidente,
Michel Temer - podem indicar uma crise interna.
Além de deliberar a entrega de, aproximadamente, dois mil
cargos comissionados e os postos ocupados no segundo escalão do Governo Dilma,
Temer e Eduardo Cunha fizeram valer a tática maquiavélica de abandonar o barco
para pegar carona em outro. Usando um interlocutor conhecido pelo governo, a
bancada decidiu engrossar os quadros da oposição federal por aclamação. Romero
Jucá (RR) liderou as vozes dissonantes – porém, não consensuais – que debandaram
da administração. Este, que já foi líder dos governos Lula e Dilma, agora adota
de bom grado a estratégia traçada por Temer para enfraquecer Dilma e possibilitar
a já dada como certa “administração Temer”.
Enquanto isso, se desenrola em rapidez inversamente
proporcional ao processo de impeachment, o processo de cassação de Eduardo
Cunha (RJ), atual e - pasmem - ainda Presidente da Câmara. Como se não fosse
susto suficiente, terceiro na linha sucessória da presidência da república.
No Poder Judiciário, parece que a voz do juiz Sérgio Moro
foi calada. Pelo menos, momentaneamente. Com indicação do procurador Janot, os
ministros do STF decidiram ordenar que a “investigação” contra Lula seja tocada
pela suprema corte, e não mais por Curitiba. Isso abre espaço para a possível
aceitação da nomeação de Lula para a Casa Civil. Na interpretação de Teori
Zavaski, o Supremo não pode interferir nas decisões - amparadas por lei – do Poder
Executivo.
De resto, nos é imposto ir às ruas e lutar para que a democracia
não seja perdida ou subtraída. Interesses escusos movem o processo de
impeachment e arrastam grandes nomes da direita brasileira para um abismo de
ódio e indignação seletiva que surpreendem os mais céticos.
O jeito seria esperar e apostar, se espera e aposta não
fossem tão perigosas neste momento. É tempo de luta!
quarta-feira, 16 de março de 2016
Lula e o cerco
“O país está chocado, está atônito.” Não, o dia de hoje é “mais
um dia normal” na recente história política brasileira. Não estou me dirigindo
a eleitores. Dirijo-me à massa que não se permite entrar na discussão acéfala
de “quem é o responsável”.
O episódio de hoje pode sim entrar para a história. Não é
brincadeira um ex-presidente entrar para o hall dos ministros de um governo que
ele mesmo se empenhou em eleger. De um governo que ele fez de tudo para eleger!
Lula na Casa Civil, ou em qualquer cargo do atual governo é
um erro. Fomenta fanáticos e acirra o mata-mata que se tornou nossa política.
Não é o fundo do poço porque, como o Brasil não é para iniciantes, sempre
podemos nos surpreender. Mas, curiosamente, há uma explicação (que nada me
agrada) para a jogada: não podemos esperar reações políticas equilibradas de
ações jurídicas desequilibradas.
Quando a Presidenta Dilma fala que foi o seu governo que mais
lutou contra a corrupção no país, ela não está errada. Qualquer ânimo exaltado
pularia da cadeira com esta afirmação, mas analiticamente falando,
legislativamente falando, nunca houve um combate intrínseco à corrupção como o
dela. Medidas de coerção, PEC’s que neutralizariam parte da banda criminosa,
redução de salários... Pode-se questionar a demora do processo, mas o processo
em si, não.
Quanto a Lula, trata-se de um líder (embora o coro dos
insanos não queira admitir, ainda é um) que, sentindo-se ameaçado, lança mão de
todos os dispositivos legais à disposição para permanecer no posto de líder. Digo
legais, visto que pode não ser imoral assumir tal cargo nesta altura do
campeonato. Mas há uma cartilha pouco conhecida, por muitos esquecida, chamada
Constituição Federal que assegura a Dilma o direito de montar o ministério que
lhe convir. Comigo, com Lula, com Aécio, com você...
Lula não está assumindo qualquer tipo de culpa tomando esta
decisão precipitada. É, apenas, uma resposta conturbada a um processo jurídico
esquizofrênico que o torna réu da opinião pública. É sempre importante lembrar
que ACHAR que alguém é culpado não torna esta pessoa culpada. É, até o momento,
inclusive uma informação confirmada pela juíza de SP lotada de julgar o pedido
de prisão preventiva, apenas uma suspeita! Não há provas.
Poderíamos estar discutindo até onde o insano Eduardo Cunha
vai chegar, ou quanto tempo irá demorar para que Aécio, penta campeão em citações
nas delações premiadas , pode seguir sem nenhum processo. Mas não: a discussão
mais importante é como acabar com um governo que mal se mantém em pé por conta
própria.
Não me convencem as bandeiras manifestantes que dizem “meu
partido é o Brasil”, ou então “não importa qual o partido do corrupto, quero
todos na cadeia.” Até porque, ironicamente, só se ouvem essas vozes quando a
manifestação é claramente da direita.
Perdeu-se a sensibilidade para o simbólico, e o brasileiro
só está focado no prático. O simbólico, neste caso, é estar numa manifestação
anacrônica, onde uns pedem monarquia, outros ditadura, deposição, renúncia...
Qualquer manifestação política séria prima pela unidade de raciocínio. E esta
não está cumprindo a premissa.
Sinto que nada mais falta aos tímidos apoiadores da direita
ou aos aguerridos, senão reconhecer que os heróis de outrora (Japonês da Federal,
Eduardo Cunha exaltado na mesma manifestação num passado pouco distante, Aécio
Neves) estão a léguas de vantagem do Lula na corrida para a forca. O problema
da esquerda é, talvez, um fanatismo que a cega. O da direita é apontar o dedo
para este mesmo fanatismo como se não estivesse fadada ao mesmo fracasso.
quinta-feira, 10 de março de 2016
Remake de 64
Poderia até ser exagero, mas ao que tudo indica é premonição. De fato, 1964 parece não ter acabado e parece que 2016 foi o ano escolhido para o remake, ou a continuação.
A elite era a mesma: iludida e ilusória. Iludida da fraqueza do inimigo e ilusória da perseguição alheia. Ou melhor, da necessidade de perseguição alheia.
Aqui, não há meias palavras: "alheia" refere-se a Lula. A meia dúzia de famílias midiáticas brasileiras não suporta a ideia de escapar por entre seus dedos o mesmo erro. Não faz sentido algum permitir que o velho retome seu poder junto ao povo. E de tão cegas vislumbrando um objetivo, se esquecem ou apenas ignoram o fato de o poder do velho não pode ser retomado. Só se retoma o que foi perdido!
Só que, como tudo, ao passar dos anos a coisa se moderniza. Com o golpe não poderia ser diferente. A frente midiática está de mãos dadas com a frente da "justiça". Isso porque, podemos supor sem medo de errar, que a "justiça" anda querendo mídia e a mídia, por sua vez, que por em prática seu plano reprimido de virar justiça.
Já o faz, uma vez que o que se veicula não é mais notícia, e sim julgamento!
Provando a tese, um juiz qualquer (qualquer, por enquanto!) pede a prisão preventiva (?) de um ex-presidente da república. Ora, é a de Collor e seus desvios de caráter comprovados? Ou então a de FHC e a manutenção de uma relação extra-conjugal com dinheiro público? Não, claro que não! Obviamente é a do operário que, vivendo no "país da impunidade" se aventurou em roubar um sítio para si, colocar ali uns patinhos da lagoa, e claro, comprar um estupendo...barco de lata.
Quero ser o primeiro a pedir a prisão de Lula, confirmados estes delitos. Porém, quero criar um novo artigo no código penal que abranja o crime de burrice contra o dinheiro público.
Sim, porque influente e bem relacionado como a mídia o pinta, roubar um sítio que nem é lá essas coisas e uns pedalinhos que nem motorizados são é muita burrice. "Quer roubar, que roube direito!"
Parece que perdemos a sensibilidade para o ridículo. Não é uma questão de defesa de maçãs menos podres. Se são podres, devem cair. Mas me desagrada a ideia de que ele, assim como qualquer civil, possa ter uma prisão preventiva decretada sem ao menos estar se opondo a qualquer investigação.
Lanço aqui uma proposta de reflexão e um aviso à dita oposição: esta semana, o que temos mais próximo de imprensa noticiou o possível convite feito pela Presidenta Dilma a Lula, lhe oferecendo um ministério. Cargo útil em tempos de caça às bruxas. Lembrando que, ocupando o cargo, ele teria foro privilegiado e se livraria dos Moros ou Consertinos da vida. Não só não o fez como desmentiu à mesma imprensa este convite.
Com isso, observando o curso do estado de exceção e do futuro estado de golpe deflagrado, estaria Lula deixando o barco correr?
Protejam-se, senhoras e senhores: com Lula preso, ninguém garante nada neste país! A oposição não vai conseguir domar o monstro criado.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2016
Ano Novo, Política Velha
A virada do ano é o momento em que concentramos todas as
energias ruins do ano que passou, juntamente com toda a esperança para o
período que se inicia. É o período de eterno desejo de renovação que toma, não
só brasileiros, mas qualquer nacionalista.
A julgar pelo grave momento que estamos passando, vale a
pena refletir. E refletir, nesse sentido, vai além de se chegar a mesma
conclusão, sempre: o Brasil vai mal. A proposta não é aceitar os fatos, mas
entender os motivos.
A história é cíclica e, com o Brasil, não podia ser
diferente. Na República Velha já se podia encontrar a mesma configuração
parlamentar que temos hoje. O jogo político era igual e poderoso de tal forma
que a única diferença de mais de 80 anos para cá, é que o disfarce melhorou.
Se, no início do Governo Provisório, assumido por Vargas em 1930, o cerceamento
do congresso era aplaudido e corroborado, sem exceção, pela mídia nacional,
hoje em dia esta mídia adquiriu tamanho poder que pode facilmente se configurar
como uma potência independente e seguir um rumo oposto ao do Estado. Explico!
No início da Era Vargas – e até mesmo em regimes anteriores – já se observava
que imprensa trabalhava em prol de seus interesses no Congresso. Estes
interesses eram diretamente financeiros, visto que o Governo Federal mantinha
determinados órgãos de imprensa sob gordas mesadas, que garantiam a manutenção
da “boa relação” entre mídia e políticos da situação. Independente de
ideologia, esta prática parecia ser normal no início do século passado. O
próprio Getúlio - segundo apurou Lira Neto na biografia do político – enquanto presidente
do Rio Grande do Sul (cargo equivalente ao de governador, atualmente), mantinha
repasses mensais ao principal jornal do estado, que defendia os interesses do
PRR, sigla a qual Vargas pertencia.
Quando a revolução, ou golpe, que levou Vargas à presidência
chegou ao Rio de Janeiro, os revoltosos atearam fogo aos principais órgãos de
imprensa vigentes á época: A Noite, Folha da Manhã, o Paiz,
entre outros. Estes órgãos encobriram, até onde foi possível, a evolução do
levante que vinha desde o Rio Grande até o Rio, por via férrea.
Outra curiosidade sobre a época, que diz muito a respeito do
atual momento, é que é extremamente recorrente encontrar sobrenomes conhecidos
por todos nós, hoje em dia, ocupando cargos relevantes na política de 1930. A
família Collor, por exemplo. Presente no Congresso Nacional com os ascendentes
mais antigos do ex-presidente Fernando Collor. Daí o fato da política ser
cíclica: os atores são sempre os mesmo, nadando e se adaptando a mercê das correntes
e marés.
Sem qualquer defesa política, mas é inegável que os dois
únicos presidentes que tivemos, e que não possuem nenhuma ligação parental com
outros ocupantes de cargos importantes na história do país, são Lula e Dilma. A
renovação é extremamente importante, para que se oxigenem as instituições.
Muitos defendem o fim da reeleição com este mesmo argumento. É um assunto
polêmico que pode ser tema de uma próxima postagem.
quarta-feira, 11 de novembro de 2015
Adeus, sanidade!
Corram! Enquanto puderem, corram! Não para fugir, ou salvar a própria pele - e somente ela! Corram porque o tempo está passando. Não como passava antes, com a comum inconstância das coisas, ou mesmo com a própria percepção pessoal de que havia menos tempo a cada dia. Que ironia! O tempo encontrou outro motivo para passar, e escolheu passar rápido. Escolheu porque não tem valido a pena se demorar. Não faz mais sentido ficar. O Brasil onde não se corria da morte por falta de árvores, já não existe. O Brasil da fome extrema também não. Corram? Espere, ainda tem o Brasil da impunidade, corram! Mas eu nunca vi prenderem tantos e tão importantes. Mas deve ser porque somos novos, e nunca vimos muita coisa. Não vimos, por exemplo, uma briga de três lados: dois lados defendem, cada um, sua visão. O terceiro tenta defender o direito de ter visão. Parece confuso entender a correria? Então, não corra! Entenda.
Não é uma fase, porque fases duram pouco. Há tempo mais que suficiente, o país está vivendo uma crise estranha e mal explicada. E quando o assunto é crise, parece que só a palavra já gera sua essência! A começar pela crise econômica: um absurdo! Mercado, gasolina, luz, água...! Tudo efervescendo enquanto a única coisa que não prolifera é o salário. Logo o salário que tinha tanto valor, no passado! Não tinha? No passado não tinha essa de reclamar do mercado, da água, da luz...tinha? Tinha! O que não tinha no passado, então? No passado, não tinham as pessoas que hoje reclamam que as coisas do passado eram melhores. Entendeu? Dá pra melhorar: todo mundo tem o direito de reclamar, se achar que a coisa não está fácil. Mas o direito de todo mundo reclamar termina no momento em que a solução apresentada é motivo pra outra crise começar. Tem crise? Tem crise! Tá difícil? Como sempre! Sem essa de que agora tá insuportável! Continua difícil. E se é pra reclamar de soluções frágeis, vamos começar a reclamar, também, de governos frágeis. Este, o último, o penúltimo... Não me lembro de mamãe falar do preço da carne, só semana passada! Na verdade, até onde minha curta memória me permite chegar, não lembro de mamãe feliz no mercado!
Mas economia é coisa de economista. O que eles chamam de "números", a gente chama de "gente"! Falemos, então, de política. Nossa...essa sim, que crise! Essa pessoa que está aí nesse cargo...essa mulher aí, que coisa! Alguém tem que tomar as rédeas dessa situação! Onde já se viu ficar cedendo avião, com dinheiro do povo, pra artista passear?! Ah, não! Essa não foi ela! Foi o outro lá, aquele neto do outro, que não chegou a ser! Mas ela quer prender caminhoneiro, não quer? Tira ela! Tem que tirar! Tira e coloca o que veio antes dela! Aquele sim, daquele a gente não reclamava! Reclamava? Bom, então trás o que veio antes dele, ou um amigo, não sei... Não é possível que essa gente reclame deles, também. Reclama? Então, deixa ela. Mas quieto não dá pra ficar! Não tem um dia que o jornal não fale mal deles...dela! Não tem um "boa noite" que o Bonner me dê, que não seja com aquela cara de que a coisa vai mal. Por causa deles...dela! Eu não quero e nem preciso viver num país onde ela faça o que bem entende e roube cada dia mais! Ela? Como pode? Apanhou tanto dos milicos e não aprendeu! Não é dela aquela conta lá no estrangeiro? Ah, não. Confundi! É daquele outro que o pastor falou, no culto de hoje. Mas tem que provar antes de prender, né? Deus me livre acusar algum inocente! Ainda mais ele, que o pastor disse que é contra essas coisas de aborto! Mulher que não se dá ao respeito, agora quer resolver o problema matando um inocente...puta!
Falando sério? Não dá pra defender quem rouba! E, mesmo que não roube, como defender gente que consente? O governo, ou quem defende ele, está "errando na mão" ao se calar para a bagunça em que o país se tornou. Assim como quem defende a oposição - que só é oposição enquanto não está lá - tem que parar de querer que todo mundo engula "o qual belo seria o Brasil se o PT acabasse".
Num país de várias crises, peca quem se excede, na acusação e na defesa! Os caminhoneiros estão parados pedindo a saída da presidenta por que são só caminhoneiros preocupados com o futuro do país? Não se engane! Lula é o sinônimo da pureza política? Não seja tolo! Aécio revolucionará este país com o PSDB? Ilusão! A presidenta Dilma é péssima por que a escola da sua rua está sem verbas? Sim, inclusive é o mesmo que culpar a saia da sua filha pela olhada indiscreta do machão na rua!
Não é que tudo seja uma questão de perspectiva: tudo é uma questão de perspectiva certa! Suplico aos poucos que ainda não foram contaminados pelos jornais com essa briga fantasiosa de "direita e esquerda/situação x oposição" que se apeguem às provas mais do que às suposições. Que façam seus julgamentos menos "pelo que parece ser" e mais "pelo que está comprovado ser". Não é fácil com a mídia que temos, com as novelas que temos, com a cultura que temos. Mas, também, não é fácil viver com o salário que a gente vive. E no entanto, olha a gente aqui: eu escrevendo e você lendo!
Não é uma fase, porque fases duram pouco. Há tempo mais que suficiente, o país está vivendo uma crise estranha e mal explicada. E quando o assunto é crise, parece que só a palavra já gera sua essência! A começar pela crise econômica: um absurdo! Mercado, gasolina, luz, água...! Tudo efervescendo enquanto a única coisa que não prolifera é o salário. Logo o salário que tinha tanto valor, no passado! Não tinha? No passado não tinha essa de reclamar do mercado, da água, da luz...tinha? Tinha! O que não tinha no passado, então? No passado, não tinham as pessoas que hoje reclamam que as coisas do passado eram melhores. Entendeu? Dá pra melhorar: todo mundo tem o direito de reclamar, se achar que a coisa não está fácil. Mas o direito de todo mundo reclamar termina no momento em que a solução apresentada é motivo pra outra crise começar. Tem crise? Tem crise! Tá difícil? Como sempre! Sem essa de que agora tá insuportável! Continua difícil. E se é pra reclamar de soluções frágeis, vamos começar a reclamar, também, de governos frágeis. Este, o último, o penúltimo... Não me lembro de mamãe falar do preço da carne, só semana passada! Na verdade, até onde minha curta memória me permite chegar, não lembro de mamãe feliz no mercado!
Mas economia é coisa de economista. O que eles chamam de "números", a gente chama de "gente"! Falemos, então, de política. Nossa...essa sim, que crise! Essa pessoa que está aí nesse cargo...essa mulher aí, que coisa! Alguém tem que tomar as rédeas dessa situação! Onde já se viu ficar cedendo avião, com dinheiro do povo, pra artista passear?! Ah, não! Essa não foi ela! Foi o outro lá, aquele neto do outro, que não chegou a ser! Mas ela quer prender caminhoneiro, não quer? Tira ela! Tem que tirar! Tira e coloca o que veio antes dela! Aquele sim, daquele a gente não reclamava! Reclamava? Bom, então trás o que veio antes dele, ou um amigo, não sei... Não é possível que essa gente reclame deles, também. Reclama? Então, deixa ela. Mas quieto não dá pra ficar! Não tem um dia que o jornal não fale mal deles...dela! Não tem um "boa noite" que o Bonner me dê, que não seja com aquela cara de que a coisa vai mal. Por causa deles...dela! Eu não quero e nem preciso viver num país onde ela faça o que bem entende e roube cada dia mais! Ela? Como pode? Apanhou tanto dos milicos e não aprendeu! Não é dela aquela conta lá no estrangeiro? Ah, não. Confundi! É daquele outro que o pastor falou, no culto de hoje. Mas tem que provar antes de prender, né? Deus me livre acusar algum inocente! Ainda mais ele, que o pastor disse que é contra essas coisas de aborto! Mulher que não se dá ao respeito, agora quer resolver o problema matando um inocente...puta!
Falando sério? Não dá pra defender quem rouba! E, mesmo que não roube, como defender gente que consente? O governo, ou quem defende ele, está "errando na mão" ao se calar para a bagunça em que o país se tornou. Assim como quem defende a oposição - que só é oposição enquanto não está lá - tem que parar de querer que todo mundo engula "o qual belo seria o Brasil se o PT acabasse".
Num país de várias crises, peca quem se excede, na acusação e na defesa! Os caminhoneiros estão parados pedindo a saída da presidenta por que são só caminhoneiros preocupados com o futuro do país? Não se engane! Lula é o sinônimo da pureza política? Não seja tolo! Aécio revolucionará este país com o PSDB? Ilusão! A presidenta Dilma é péssima por que a escola da sua rua está sem verbas? Sim, inclusive é o mesmo que culpar a saia da sua filha pela olhada indiscreta do machão na rua!
Não é que tudo seja uma questão de perspectiva: tudo é uma questão de perspectiva certa! Suplico aos poucos que ainda não foram contaminados pelos jornais com essa briga fantasiosa de "direita e esquerda/situação x oposição" que se apeguem às provas mais do que às suposições. Que façam seus julgamentos menos "pelo que parece ser" e mais "pelo que está comprovado ser". Não é fácil com a mídia que temos, com as novelas que temos, com a cultura que temos. Mas, também, não é fácil viver com o salário que a gente vive. E no entanto, olha a gente aqui: eu escrevendo e você lendo!
terça-feira, 27 de outubro de 2015
A crise e o circo
Em tempos de desconfiança ampla e geral nos rumos do país, tanto política quanto economicamente, uma coisa é irrefutável: não há marasmo quando o assunto é Brasília. A despeito das novelas seguidas pela população, a "novela Brasil" não pode ser compreendida assistindo a um ou outro capítulo. A trama muda, os personagens assumem nova postura e o enredo acaba sempre caótico. A última semana fez com que, até os mais descrentes, se contorcessem em súbitas surpresas, se estarrecessem com impensadas decisões e se frustrassem com infundados retrocessos.
Em ordem cronológica: parece que Eduardo Cunha se comporta como um funcionário insatisfeito que, ou sabe que será mandado embora e, por isso, faz o que bem entende, ou quer ser mandado embora e, para isso, precisa chamar atenção para suas loucuras. Em apenas uma semana, os retrocessos se acumularam em decisões polêmicas dos órgãos federais. Comissões que deveriam primar pelo cuidado com o que é público, com a justiça, com o que prevê a constituição, ignoram seus afazeres e tornam o sistema ainda mais anacrônico e esquizofrênico. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei de autoria do excelentíssimo presidente da casa, de tornar crime a chamada "conivência" com o aborto. Em suma, estaria vetada a venda e o fornecimento de substâncias abortivas. Nesse aspecto, vale lembrar que cabe ao farmacêutico, por exemplo, se recusar ou não a vender a conhecida pílula do dia seguinte, mediante "sua consciência de que aquilo possa ou não ser abortivo".
Como se parecesse absurdo suficiente, o projeto ainda prevê que casos de estupro, por exemplo, que bastava a palavra da vítima, agora sofram a comprovação mediante boletim de ocorrência atestado por uma autoridade policial. A situação de total desprezo pela condição da mulher nesse aspecto se intensifica com uma espécie de adendo de humilhação, onde a situação precisa ser comprovadamente policial.
A farra com o parco progresso alcançado pelo Brasil ainda continua, se formos analisar os retrocessos que a comissão especial (também da Câmara) imputou sobre a definição de família, na constituição. Definitivamente, não se trata mais de formar um cidadão, mas sim um ferrenho "religioso" defensor da famigerada manutenção da moral e dos bons costumes. Como se moral e bons costumes fossem observados na formação política brasileira, ou mesmo na própria história do país, enquanto uma nação heterogênea.
Como um lampejo de esperança e, contra toda a intolerância mostrada por boa parte dos parlamentares, o MEC deu um grande passo rumo a um projeto de educação um pouco mais justo, ainda que modesto. O tema da redação deste ano tratou da violência de cada dia, contra a mulher brasileira. Conservadores se contorceram, autoritários esbravejaram mas todos eles foram obrigados a ver seus filhotes em situação de total desconhecimento do tema, frente a uma prova importante, quer fosse a classe social do candidato. Parece uma ação muito menos educativa do que, de fato foi, mas como as redes sociais disseram, os machistas foram obrigados a conceber uma visão completamente diferente da deles. Afinal, era o futuro que estava em jogo. Ironicamente, era o futuro que estava em jogo!
Para finalizar, ontem o ex presidente da república FHC, foi sabatinado pelo programa Roda Viva, da TV Cultura. A "sabatina" lembrou mais uma reunião de amigos que, há muito, não se viam e estavam ali para matar as saudades. A bancada era composta pelos representantes dos baluartes do jornalismo brasileiro. Estavam presentes: Folha, Veja, Época, Estadão...
Pasmem - até que se entenda o real significado deste ponto fora da curva, afinal quando se trata de uma aparente fraqueza do sistema, sempre nos surpreendemos - a jornalista Eliane Cantanhêde, representando o jornal Estado de São Paulo, indagou Fernando Henrique Cardoso a respeito de seu papel atual, que "a sociedade espera mais" dele e que "a opinião pública espera mais do acadêmico, do ex-presidente, do homem como referência". Pois é, tudo bem que o ex-presidente Lula está tendo um papel de protagonista muito além do necessário, e que, por vezes, confunde e até questiona a autoridade da Presidenta Dilma, mas FHC, independente de suas competências acadêmicas, comporta-se como um irresponsável, acompanhando o falido PSDB na empreitada pelo impeachment.
Aguardemos.
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